UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 28 de julho de 2012

Desengano




Tanto o pó de outro dia destruíra
o último sossego novamente
este cheiro de vida embora andasse
a tarde sobre tudo sem sossego
engano, escasso vento
o pó levando ainda de outro dia.
Do abrigo do dia novamente
lançados sobre a áspera cratera
dos enganos lavrada do sossego
no uso dos enganos tão ciente
ar doce do amor que leva o pó
do abrigo do dia sobre tudo
frágil disperso fora com o vento
lançados do engano do sossego.
Somente já de vida mantivera
não da gruta da tarde
as vãs lembranças
o pó do dia
as nuvens os enganos
desabridos da tarde enfim de vida
as crateras apenas despejadas
assim o pó ardia novamente
surdo cansado espesso pó da terra.
Não trazia lembranças
sem sossego abrigava de outro dia
da tarde sossegada a escassa vida.
De destroços canção somente a vida
não reduz do sossego destruído
de outro dia a lembrança
ao pó que a traz...

(Autor: Gastão Cruz)

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