UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Pomo



Da vida só têm substância
a casca e o caroço. 
No meio só tem amido,
 embromações do carbono.

Porém todo o gosto reside
  nessa carne intermediária,
  sem valor alimentício, 
 sem realidade, sem nada.
 
É nela que os dentes encontram 
 o que mantém afiados; 
 com ela é que a língua elabora 
 a doce palavra.

(Autor: Paulo Henriques Britto)

Nenhum comentário: