UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Enredo



Invento minha flor entre dois porcos  
e amanheço de óculos numa praça 
 oca.
 
Incendeio meus sonhos numa esquina,  
deixo as cinzas numa encruzilhada  
sob o choro rasante da amada
 louca.
 
Atravesso o destino com um mendigo 
 e adoto seu nome
 e sua fome. 
 Com sua voz desdentada eu faço um hino.
Eis o homem. 

(Autor: Roberval Pereyr)

Nenhum comentário: