UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 30 de junho de 2012

Às Vezes



Às vezes tenho idéias felizes,
Idéias subitamente felizes, em idéias
E nas palavras em que 

naturalmente se despegam...

Depois de escrever, leio...
Por que escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? 

Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo 

apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer

 o que nós aqui traçamos?...

(Autor: Álvaro de Campos)

Nenhum comentário: