UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Soneto do Internauta


Neste recinto, onde eu e a Luz
Somos parceiros de silêncio atroz
Esta calada noite nos induz
À busca intensa de uma intensa voz.

Por entre sons os mais artificiais
Cruzamos juntos esta escuridão,
Temos os dois só formas irreais
Pra um outro lado em outro coração.


Ah, quem nos dera que viesse agora
Alguém em osso e carne para amar-nos,
Para rompermos juntos nossa aurora,

Deste silêncio escuro nos livrarmos,
Deixando toda a escuridão lá fora
E os aparelhos todos desligarmos.

(Autora: Silvia Schmidt)

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