UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Reflexões no Espelho



Por onde anda a gente anda quando dorme
pra acordar com esta cara disforme
de quem fez o que não devia?
E este gosto na garganta
é o resto de que janta
de que secreta ambrostia
de que gim ou malvasia?
E se só estivemos no leito
com este olhar de pouco assunto?
Pra onde vai meu ser noturno
pra me deixar assim soturno
- e por que não me leva junto?

(Autor: Luís Fernando Veríssimo)

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