UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Tão bom viver

Tão bom viver dia a dia
A vida assim, jamais cansa
Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu
E só ganhar, toda a vida
Inexperiência... esperança
E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu
Nunca dês um nome a um rio
Sempre é outro rio a passar
Nada jamais continuo
Tudo vai recomeçar
E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas

(Mário Quintana)

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