UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 23 de abril de 2010

LIVRO: A menina que não sabia ler


Category: Books
Genre: Literature & Fiction
Author: John Harding

Na tradição de Henry James e Edgar Allan Poe, uma história incrível sobre uma menina e o poder de sua imaginação.

A jovem Florence e seu irmão mais novo Giles crescem nos corredores de uma decadente mansão na Nova Inglaterra, deixados à mercê de criados e regras ditadas por um negligente tio, que jamais viram. Até que Florence passa a se interessar por um lugar abandonado: uma biblioteca fechada e empoeirada, que lhe é proibida. Um mundo de livros maravilhosos, que a determinada jovem insiste em habitar, mas que precisa ser mantido em segredo, não importa o preço.

Após a morte violenta da preceptora de Giles, srta. Taylor, sua substituta, chega à mansão e estranhos acontecimentos parecem despertar em Florence um medo sobrenatural: afinal, quem é, de fato, a nova preceptora?

A menina que não sabia ler é uma obra contemporânea, escrita por John Harding e sob influência dos maiores mestres do mistério de todos os tempos: Edgar Allan Poe e Henry James. Neste verdadeiro vira-páginas o leitor acompanha a história narrada pela própria Florence e, uma vez em sua mente, como separar o que é real do que é invenção?

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Ler esse livro é como ir montando um grande quebra-cabeças – Florence vai nos dando as peças, mas não nos deixa ver direito que figura está se formando... até o final, que é maravilhoso e intenso!

Duas crianças órfãs criadas por empregados numa mansão decadente, Florence e Giles são muito ligados e Florence cuida do irmãozinho muito bem. Até que, em um dia de exploração, eles descobrem uma biblioteca. Os livros fascinam Florence, mas a Sra. Grouse, governanta da casa, diz que o tio deles – e guardião legal, apesar de ausente – não quer que ela seja alfabetizada. Mas Florence é uma criança determinada e decide que vai aprender a ler sozinha. E consegue! Os livros passam a ser seus melhores amigos, depois de Giles, é claro. Seus autores preferidos são Shakespeare (com quem ela aprende a inventar palavras e cria algumas maravilhosas) e Poe (de quem pega o clima gótico na hora de narrar e vai conduzindo a história num crescendo, até o final absolutamente assombroso!)

Para quebrar a solidão dos dois, eles fazem amizade com Theo, um rapaz que vem passar as férias na propriedade vizinha e se torna um verdadeiro companheiro para Florence quando Giles vai para a escola. Theo sofre de asma e o ambiente do campo é melhor para sua saúde, por isso ele está sempre por perto.

Giles não se dá bem na escola, então seu tio contrata uma preceptora para ensiná-lo em casa. Srta Whitaker e Florence se estranham e a jovem professora acaba morrendo afogada em um acidente bem confuso. Chega então sua substituta, srta. Taylor. Desde o princípio, Florence fica desconfiada dela, achando que ela quer sequestrar Giles. É quando começa a acontecer coisas estranhas...

Como é Florence a narrar a história, não sabemos o que é imaginação dela e o que é realidade – e isso é o fantástico do livro! Florence nos dá algumas pistas e daí vamos construindo o quadro, mas tem coisas que nós, leitores temos de inferir, pois as respostas não são tão claras.

Adorei o livro pois Florence é uma personagem marcante. Super inteligente, ela é dissimulada, mas ao mesmo tempo muito amiga e protetora de Giles. Ela é um poço de contradições e a gente fica sem saber se a ama ou a odeia ou a teme...

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