UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Correspondências


A natureza é um templo onde vivos pilares
Deixam sair às vezes palavras confusas.
Por florestas de símbolos, lá o homem cruza
Observado por olhos ali familiares.
Tal longos ecos longes onde lá se confundem
Dentro de tenebrosa e profunda unidade
Imensa como a noite e como a claridade
Os perfumes, as cores e os sons de transfundem.
Perfumes de frescor tal a carne de infantes,
Doces como o oboé, verdes igual ao prado.
_ Mais outros, corrompidos, ricos, triunfantes.
Possuindo a expansão de um algo inacabado
Tal como o âmbar, almíscar, benjoim e incenso
Que cantam o enlevar dos sentidos e o senso.

(Autor: Charles Baudelaire)

Nenhum comentário: