UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 18 de abril de 2010

A Flor do Maracujá

Pelas azuis borboletas
que descem do Panamá
Pelos tesouros ocultos
Nas minas do Sincorá
Pelas chagas roxeadas,
Da flor do maracujá!

Pelo mar, pelo deserto
Pelas montanhas, Sinhá!
Pelas florestas imensas
Que falam de Jeová!
Pela lança ensanguentada
Da flor do maracujá

Por tudo que o céu revela
Por tudo que a terra dá,
Eu te juro que minh'alma
De tua alma escrava está !...
Guarda contigo este emblema
Da flor do maracujá!

Não se enojem teus ouvidos
De tantas rimas em -a-
Mas ouve meus juramentos,
Meus cantos ouve, Sinhá!
Te peço pelos mistérios
Da flor do maracujá!

(Autor: Fagundes Varela)

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