UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 18 de abril de 2010

Cantiga de Amor

Como morreu quem nunca amar
se fez pela coisa que mais amou,
e quando dela receou
sofreu, morrendo de pesar,
ai, minha senhora, assim morro eu.

Como morreu quem foi amar
quem nunca bem lhe quis fazer,
e de quem Deus lhe fez saber
que a morte havia de alcançar,
ai, minha senhora, assim morro eu.

Igual ao homem que endoideceu
com a grande mágoa que sentiu
senhora, e nunca mais dormiu
perdeu a paz, depois morreu,
ai, minha senhora, assim morro eu.

Como morreu quem amou tal
mulher que nunca lhe quis bem
e a viu levada por alguém
que não valia nem a vale,
ai, minha senhora, assim morro eu.

(Autor: Paio Soares de Taiverós - Trovadorismo)

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