UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Escreve-me

Escreve-me!
Ainda que seja só
Uma palavra, uma palavra apenas
Suave como o teu nome e casta
Como um perfume casto d'açucenas

Escreve-me!
Há tanto, há tanto tempo
Que te não vejo, amor! Meu coração
Ninguém nega uma frase d’oração

"Amo-te!"
Cinco letras pequeninas
Folhas leves e tenras de boninas
Um poema d'amor e felicidade
Não queres mandar-me esta palavra apenas
Olha, manda então, brandas, serenas
Cinco pétalas roxas de saudade

(Autora: Florbela Espanca)

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