UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Pra que serve um amigo?

Para tanta coisa...não é?
Para dividir a gasolina, emprestar dinheiro quando estamos precisando, recomendar um restaurante, dar carona para a festa, passar e-mail, caminhar ao nosso lado nas horas boas, segurar a barra.

Todas as alternativas estão corretas, porém isso não basta para guardar um amigo(a) do lado esquerdo do peito.

Milan Kundera, escritor tcheco escreveu em seu último livro, "A Identidade", que a amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para integridade do próprio eu.

Chama os amigos de testemunhas do passado e diz que eles são nosso espelho, que através deles podemos nos olhar.
Vai além: diz que toda a amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos.
Verdade verdadeira.

Amigos recentes custam a perceber essa aliança, não valorizam ainda o que está sendo contraído.
São amizades não testadas pelo tempo, não se sabe se enfrentarão com solidez as tempestades ou se serão varridos numa chuva de verão.
Veremos!

Um amigo(a) não divide apenas gasolina:
divide lembranças, crises de choro, experiências...
Divide a culpa, divide segredos.
Um amigo(a) não empresta apenas dinheiro:
Empresta o verbo, empresta o ombro, empresta o tempo, empresta o calor.

Um amigo(a) não recomenda apenas um restaurante:
Recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda um país.
Um amigo(a) não dá carona apenas para a festa:
Te leva para o mundo dele, e topa conhecer o teu.

Um amigo(a) não passa apenas e-mail:
Passa contigo um aperto, passa junto o Reveillon.
Um amigo(a) não caminha ao nosso lado apenas nas horas boas:
Anda em silêncio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso ao teu lado.

Um amigo(a) não segura a barra, apenas:
Segura a mão, a ausência, segura uma confissão, segura o tranco, o palavrão, segura o elevador.
Duas dúzias de amigos assim ninguém tem!
Se tiver um desses.

Amém!

(Autor Desconhecido)

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