UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

LIVRO: Crime e Castigo no País dos Brandos Costumes


Category:Books
Genre: Literature & Fiction
Author:Pedro Almeida Vieira

Sinopse: Este livro apresenta um conjunto de trinta narrativas que abordam crimes, e os respectivos castigos, cometidos em Portugal até à abolição da pena de morte em meados do século XIX. Todos os crimes incluídos tiveram condenações à pena capital. Este ano de 2011 é o do centenário da Constituição de 1911 que aboliu a pena de morte e a prisão perpétua para todo o tipo de crimes. A escolha dos crimes baseou-se numa criteriosa seleção segundo a sua relevância histórica, fundamentando-se em documentação oficial e/ou em documentos contemporâneos. São crimes que têm, como denominador comum, a aplicação da pena capital, mesmo que em alguns casos possam ter sido comutadas ou anistiadas.
Apresenta pois, realmente, um conjunto de 30 crimes históricos, compreendidos entre os séculos XVI e XIX (até à abolição da pena de morte em 1867), sob a forma de narrativas curtas. Como denominador comum da quase generalidade destes crimes selecionados está a pena de morte como castigo aplicado, embora em alguns casos tenha ocorrido comutação desta pena.
Uma parte destes crimes são relativamente conhecidos, tendo alguns mesmo sido abordados em obras de ficção ao longo dos anos, como o famoso «Maria, não me mates que sou tua mãe!» de Camilo Castelo Branco. Mas figuras como a de Diogo Alves, António José da Silva (O Judeu), o padre Gabriel Malagrida ou a serial killer infanticida que esteve na origem da fundação da Casa Pia, entre outras, estão presentes neste primeiro volume de Crime e Castigo no País dos Brandos Costumes, que em breve será complementado com um segundo volume que abordará casos judiciais envolvendo atentados a reis e ministros, motins e sublevações, conspirações contra o Estado e crimes econômicos, todos com o denominador comum de condenações à pena de morte.

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De fato, Portugal é tido como um país brando, tendo sido um dos primeiros países a abolir a pena de morte, mas também certo é que também por aqui houve criminosos à altura dos de lá de fora, e que foram punidos com pesadas penas, que naquela época, levam à pena de morte: a forca, ou queimados vivos.

Gostei de ler Pedro Almeida Vieira porque o autor conta a história destes criminosos em capítulos curtos mas bem explicados e exemplificados mostrando tanto a crueldade dos criminosos, como a crueldade das sentenças, algumas delas que se vinham a descobrir serem posteriormente erradas. A crueldade de Luísa de Jesus que confessou ter matado 28 bêbes que tinham sido dados para adoção, a de Maria José que matou a mãe cortando-a em pedaços, história que daria um romance de camiliano, a maldição do Panteão Nacional que viria a condenar um homem por ter roubado uma pequena igreja quebrando os braços de São Frutuoso, roubando igualmente um cofre em prata, assim como outras coisas preciosas. O dito homem era um cristão-novo que na hora da sua condenação, seria queimado vivo, sendo antes decepadas as mãos, diria que “é tão certo eu estar inocente como certo é findarem aquelas obras” referindo-se ao Panteão.

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