UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

LIVRO: D. Dinis - A Quem Chamaram O Lavrador


Category: Books
Genre: Literature & Fiction
Author: Cristina Torrão

«E este foi o melhor rei e mais justiceiro e mais honrado que houve em Portugal desde o tempo do rei D. Afonso, o primeiro»
(D. Pedro, Conde de Barcelos)

Sinopse: D. Dinis, sexto monarca português, marcou profundamente a consolidação do reino através dos seus quarenta e seis anos de governo. Fundou a primeira universidade portuguesa, substituiu o latim pela língua portuguesa nos documentos oficiais, reformou quase todos os castelos, foi um diplomata de exceção, admirado, inclusivamente pelo Papa, incrementou a agricultura, a pesca e o comércio, amante da poesia e da música, ficou imortalizado pelos seus cantares.

Mas a tragédia também assolou a sua alma, primeiro foi o conflito armado com o irmão, no final da vida, a dilacerante guerra com o seu próprio filho herdeiro. A seu lado, estava uma rainha de grande valor, Isabel de Aragão, com a qual nem sempre as relações foram fáceis…

Neste romance, o leitor é conduzido à intimidade de um Rei justo, sábio e poeta. Nunca a esfera íntima de D. Dinis foi descrita com tanto detalhe e faceta humana.

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Primeiro rei hispânico com esse nome, Dinis foi um homem privilegiado. O pai e o avô castelhano eram as referências de D. Dinis que desde muito novo se mostrou ser forte em relação a todas as adversidades que lhe iam surgindo no caminho.

D. Dinis é nome de empreendedor, de lutador, de conquistador. Conquistador de mulheres, sobretudo, mas também de tudo o que achava bom para o reino que defendia.

Cristina Torrão mostra um rei amoroso, que se apaixona constantemente pelas lindas mulheres com quem convivia e para quem escrevia as cantigas de amor que chegaram aos nossos dias. Mas era também um rei apaixonado pela sua mulher, a quem chamaram Santa.

De fato, Isabel era piedosa, uma rainha que se preocupava com os mais pobres ao ponto de jejuar várias vezes e de dar toda a comida que sobrava dos soberbos banquetes organizados pelo monarca. Era conhecida a sua bondade por todo o reino, e os pobres recorriam a ela constantemente. No entanto, nem sempre as relações do casal foram boas. Quando o filho de ambos, e futuro rei de Portugal, Afonso (futuro D. Afonso IV), se mostra com vontade de reinar, destronando D. Dinis, O Lavrador, mostrou-se mais uma vez um rei guerreiro, defensor da sua vontade e fez frente ao seu filho, como anteriormente tinha feito com o seu irmão, também ele chamado Afonso.

D. Dinis afirmou-se sempre por defender os Templários, que foram perseguidos pelo papa Clemente V e Filipe IV de França. Contrariando a perseguição que estes dois faziam aos Templários, D. Dinis protegeu-os sempre, até que estes criaram a Ordem de Cristo, nova ordem militar e religiosa autorizada pelo Vaticano a pedido do rei português.

Um livro que se lê rapidamente e, ao contrário de alguns livros históricos, isso acontece devido a uma narrativa bastante envolvente. A autora não se centrou num aspecto de D. Dinis, mas aproveitou tudo o que ele tinha de bom: o seu empreendedorismo, o seu amor pelas mulheres, as discussões frequentes com o seu irmão Afonso que pretendia o reino para si, e mais tarde com o seu próprio filho pelo mesmo motivo, a posição política nos reinados de Castela, a oposição ao Papa em relação aos templários, a criação da primeira universidade, a plantação do Pinhal em Leiria. Um excelente e rico monarca só podia dar um bom livro.

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