UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Fim do Ano


0 futuro é um pássaro assustado
na direção da minha testa.
Recuo, às vezes, mas a terra
gira satélites implacáveis.

Calendários são
asas na madrugada
dissolvidas à meia noite.
Enterro o relógio,
misturo a matemática,
não adivinho se é sábado, aniversário
ou desfile da independência ou morte,
Chove, as nuvens surpresas
escorrem no cimento,
a terra seca morre sepultada
com seus olhos de areia.
Algumas espécies desaparecem hoje,
os lemingues engolem as ondas
no suicídio inexplicável.
Perdemos o centro do universo,
abandonados pelos deuses
somos primatas apenas.

Falta o alienígena descer
da nave resplandecente
e partir de novo movendo
frustrados tentáculos.
Nossa escrita
nem golfinhos
compreendem,
mas decifro a língua
da abelha dançarina.
Há muita esperança no amor.
Todos se cumprimentam,
mostram dentes limpos,
presentes com largas
fitas vermelhas.
Escrevo o poema adolescente
esquecido na minha inocente cabeça. 

(Autor: André Carrero)

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