UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

O Tempo que vem


O ano se vai,
é o tempo que voa,
é o tempo que passa,
não volta, é fumaça.

O que fica é história,
contada ou cantada,
é passado, é saudade,
é memória,
Memória da vida,
da coisa brigada,
da mulher amada,
da luta sofrida.
Lembrança que resta?
É marca indelével,
é brisa no vento,
alegre ou funesta.

Mas no ano que vai,
no tempo que voa,
algo não passa,
mas volta,
retorna com graça.
É a paixão encontrada,
que na sacada do tempo,
cantante e alegre,
sorri debruçada.
Lembrança presente,
do dia que corre,
perfumada brisa,
que resta, não morre.
É o encontro marcado,
e entre beijos e acenos,
entre afago e carícia,
o amor revelado.

Mais um ano ainda vem,
do tempo que voa,
ansiado futuro
que promessas contem.
Promessas seladas
no ano que vai,
de espargir tão certeiro
quanto o da gota que cai.
Espargir-se haverá,
com aromas de flores,
com recamos de cores,
no porvir que será.
Pro futuro de agora,
para o tempo que vem,
há de ser uma aurora,
o amor do meu bem.

(Autor: Manito O. Nato)

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