UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 11 de março de 2010

A Borboleta e a Psicopedagogia

Lembro-me de uma manhã em que eu havia descoberto
um casulo na casca de uma árvore,
no momento em que a borboleta rompia o invólucro
e se preparava para sair.
Esperei bastante tempo, mas estava demorando muito,
e eu estava com pressa.
Irritado, curvei-me e comecei a esquentar o casulo com meu hálito.
Eu o esquentava e o milagre começou a acontecer diante de mim,
a um ritmo mais rápido que o natural.
O invólucro se abriu, a borboleta saiu se arrastando
e nunca hei de esquecer o horror que senti então:
suas asas ainda não estavam abertas
e com todo o seu corpinho que tremia,
ela se esforçava para desdobrá-las.
Curvado por cima dela, eu a ajudava com o calor do meu hálito.
Em vão. Era necessário um acidente natural
e o desenrolar das asas devia ser feito lentamente ao sol - agora era tarde demais.Meu sopro obrigara a borboleta a se mostrar toda amarrotada, antes do tempo.
Ela se agitou desesperada,
alguns segundos depois morreu na palma da minha mão.
Aquele pequeno cadáver é, eu acho, o peso maior que tenho na consciência.
Pois, hoje entendo bem isso, é um pecado mortal forçar as leis da natureza.
Temos que não nos apressar, não ficar impacientes,
seguir com confiança o ritmo do Eterno.

(Autor: Nikos Azanizaki)

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