UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 7 de junho de 2009

Da Solidão


A maior solidão é a do ser que não ama.
A maior solidão é a do ser que se ausenta,
que se defende,que se fecha,
que se recusa a participar da vida humana.
A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo,
no absoluto de si mesmo,e que não dá a quem pede
o que ele pode dar de amor,de amizade,de socorro.
O maior solitário é o que tem medo de amar,
o que tem medo de ferir e de ferir-se,
o ser casto de mulher,do amigo,do povo,do mundo.
Esse queima como uma lâmpada triste,cujo reflexo
entristece também tudo em torno.
Ele é a angústia do mundo que o reflete.
Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes da emoção,
as que são o patrimônio de todos,e,encerrado
em seu duro privilégio,semeia pedras do alto da
sua fria e desolada torre.

(Autor: Vinícius de Moraes)

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