UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Busca e Encontro


Se me perguntares se te fui fiel?
Responderei que sim.
Se me perguntares quantas bocas beijei?
Sem pensar na resposta, direi não sei.
Quantos corpos amei?
Não respondo.
Não responderei.
Não foram importantes, não os contei.
Mil bocas, mil corpos,
Mil vidas, mil noites.
Não pude ver o que quis.
Não pude me sentir feliz.
Os beijos não eram os teus.
Os corpos eram só desejo.
O corpo era apenas sexo.
Em nenhum dos beijos te vejo
Em nenhum dos corpos houve nexo
Beijei e de nada me valeu.
Amei e de nada me serviu.
O beijo não foi teu.
O amor não nos uniu
Mil bocas, mil corpos,
Mil vidas, mil noites.
Nenhuma boca era a tua.
Nenhum corpo era o teu.
Mil vidas foram perdidas.
Mil noites mal dormidas.
Para mim foi uma busca.
Para nós foi um encontro.
Em tua boca encontrei meu beijo
Em teu corpo o meu amor.

(Autor Desconhecido)

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