UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Máscaras...

Proporcionalmente à capacidade de cada um, o ser humano se oferece mascarado à sociedade conforme a sua necessidade de não exclusão...

A falta de insegurança exterior ou o forte desejo de se sobrepor ao meio em que vive e com o qual tem forçosamente que conviver, obrigam a que se usem máscaras pesadas e fantasiosas, que a seu tempo serão difíceis de sustentar...

A dificuldade que o ser humano tem em apresentar-se como ele pensa que será mais agradável aos olhos dos outros, a dificuldade que tem em mostrar-se na sua condição, tem contribuído de maneira assustadora para o insucesso de maior tranqüilidade, que deixaria qualquer pessoa mais apta à sua transformação interior...

Quando a máscara cai o sofrimento é enorme...

Desacreditados, aqueles que durante muito tempo, com imenso esforço se apresentaram perante os outros de forma quase intocável, passeiam agora, nus de qualquer disfarce e acima de tudo impossibilitados de enganar mais alguém...

Mas afinal a quem enganavam? ... a eles próprios somente... somente a eles convenciam e de forma assustadora viviam na sombra de si próprios... esqueletizados na sua consciência, rendilhadas de crônicos desregramentos e terríveis emoções, arrastando o cadáver carnavalesco de seus atos, dormindo e acordando dentro dos seus próprios enganos...

Lamentavelmente, encontramos muitos seres humanos fantasiados de muito boas almas, porém ignóbeis atitudes os definem nas mais simples atitudes do quotidiano... outros usam a máscara de durões implacáveis , mas assustados e temerosos nas mais simples decisões do dia a dia... os pseudo sábios se desmoronam perante as mais pequeninas e simples opções que a vida oferece ao raciocínio...

Afinal... quem somos nós?... apenas frágeis embarcações, que o vento das dificuldades arrasa , se não estivermos atentos, se não nos precipitarmos, se não formos simples e humildes, se não formos generosos e bondosos em nossas atitudes no convívio diário com os outros seres humanos...

A todos sem exceção a vida pede respostas... simples respostas que definem o nosso crescimento... mas, por vezes, queiramos deslumbrados pelo sucesso dos outros, adotamos a máscara que não cabe em nosso rosto e passeamo-nos com dificuldades imensas... até um dia... ninguém suporta a máscara por muito tempo...

Por vezes a máscara não está em nós com o propósito de enganar ninguém, mas apenas porque pensamos que assim é melhor e mais fácil... puro engano... vestir à medida é sempre mais confortável ...

Aqueles que não são francos nas suas atitudes, mesmos que sejam erradas, não são credíveis aos olhos da vida, que atenta os desmascara , pela urgência que ele próprio tem de se transformar verdadeiramente...

A necessidade evolutiva está para o espírito, como o oxigênio para o corpo...

Retirar a máscara é urgente... é preciso respirar tranqüilidade... o carnaval da vida tem que passar sem que um de nós participe como figurante, mas como figura autêntica e dentro da sua própria autenticidade confira a si próprio a possibilidade de se auto construir e elevar...

A vida passa a cada momento, fazendo a chamada de quem foi convidado a viver...

Numa época tão conturbada como a época em que vivemos, estar atento e sem máscara é fundamental...

Sejamos puros de coração para que a vida nos utilize no seu serviço de forma simples e correta, para não sermos chamados à fila dos foliões, loucos e aparentemente divertidos, porém mascarados e sangrando por dentro... de cara descoberta, sem máscara é muito mais fácil e divertido... o sol bate no rosto, as lágrimas caem diretamente nas mãos, mas os olhos vem mais longe e brilham mais e os beijos chegam mais perto do nosso rosto...

Sabemos a quem abraçamos e assim a vida passa com mais prazer e sobretudo com mais consciência... vale a pena viver sem máscara... para que a depressão não tenha tempo nem se atreva a tomar o nosso lugar...

Como se consegue tudo isto?... muito simples ... seja igual a si próprio...

(Autora: Lasalete)

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