UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

terça-feira, 10 de julho de 2012

Como morrem os amores...



Os amores morrem de inanimação...
Se não há alimento...
Os amores morrem de decepção... 
Se não há sobriedade...
Os amores morrem de ciúmes...
Se lhes falta alento...
Os amores morrem de quietude...
Se não há cumplicidade...
Os amores morrem de tédio...
Se lhes faltam motivação...
Os amores morrem de egoísmo...
Quando se ama em solidão...
Os amores morrem cedo...
Quando falta compreensão...
Os amores morrem queimados...
No calor de uma discussão...
Os amores morrem sufocados 
pela mágoa acumulada...
Os amores morrem afogados
No mar das mentiras criadas...
Os amores morrem doentes
quando somos intransigentes...
Os amores morrem dormindo
se a paixão vai se diluindo...
Os amores morrem porque
nós o matamos...
Os amores morrem se
os sentimentos ocultamos...
Os amores morrem...
Porque não os vivemos...
Os amores morrem...
E, morrendo o amor...

Nós também morremos...

(Autor: Jorge Linhaça)

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