UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Vontade



Queria sair do meu corpo
ficar mudo, não dizer palavras.
Sentar no Olimpo e ficar
a escutar as palavras dos deuses.

Queria sair pelo mundo,
nadar pelos mares e
virar um peixe selvagem
como os que voam e não nadam.

Queria me diluir no vento
frio do mar Egeu,
visitar as ilhas gregas,
abandonando tudo que é meu.

Queria andar de mãos dadas
com Apolo e chegar até o oráculo,
sacrificar todas as virgens
num ato sangrento e profano.

Queria desfrutar do sol
das manhãs das montanhas,
enquanto a cidade toda dorme
e ninguém nota o quotidiano.

Talvez tudo isso fizesse
você notar que lhe amo... 

(Autor: Fernando Tanajura Menezes)

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