UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Que importa?



  Eu era a desdenhosa, a indiferente.
  Nunca sentira em mim o coração
  Bater em violências de paixão,
  Como bate no peito a outra gente.

  Agora, olhas-me tu altivamente,
  Sem sombra de desejo ou de emoção,
  Enquanto as asas loiras da ilusão
  Abrem dentro de mim ao sol-nascente

  Minh'alma, a pedra, tranformou-se em fonte;
  Como nascida em carinhoso monte,
  Toda ela é riso e é frescura e graça!

  Nela refresca a boca um só instante...
  Que importa!...se o cansado viandante
  Bebe em todas as fontes... Quando passa?...

(Autora: Florbela Espanca)

Nenhum comentário: