UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O Ser ou o Desequilíbrio



Será o ser algo desdobrável
Ou incorruptível ao ponto único
De não ter mais nada em si
Do que a própria estrutura de ser?
E assim se o ser puro
Na sua essência , que a mesmo tempo
É e existe, nula e vaga?
Ou terá ele enchimentos?
Metamorfoses, como disse heráclito,
Que o tornam impuro e maleável,
Nunca o mesmo, mas sempre o ser,
Nunca eterno, apenas temporal,
Mas infinito na sua transformação.
Constante no seu desequilíbrio.
Como será enfim?
Pois ainda não há
Metafísica bastante que o explique…

(Autor: Clóvis Brondani)

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