UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Marcas



Pode ser que alguém observe,
Pode ser que o tempo conserve,
Até mesmo pra toda vida,
O sinal de uma mordida
Que eu deixei em tua pele...
Sem que o tempo a cancele;
e que o Sol talvez apague
Embora nunca possa apagar,
As marcas do coração
Que um toque de tua mão
Não deixou de me colocar...
E por mais que eu divague
Sobre tantos caminhos de vida,
A minha razão é definida
Num instante de rara calma
pra que a verdade se revele:
É que toquei de leve a tua pele
Mas tu levaste a minha alma... 

(Autor:  José Carlos Rodrigues)

Nenhum comentário: