UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

É o mesmo




O amor que se encanta com a singela beleza
É o mesmo que se desilude com a dissimulada feiura
O amor forte, arrebatador, dominador
É o mesmo frágil e amedrontado
O amor irracional, inconsciente
É o mesmo lógico, preocupado
O amor que premia e recompensa
É o mesmo que pune, maltrata
O amor que germina aos pouquinhos
É o mesmo que agiganta repentinamente
O amor que resiste ao furacão
É o mesmo que cede a débil brisa
O amor que surge do nada
É o mesmo que sucumbe no tudo
O amor que se tranca a sete chaves
É o mesmo aberto, livre
O amor cheio de segredo
É o mesmo indisfarçavel
O amor sincero, verdadeiro, honesto
É o mesmo que mente, ilude, engana
O amor que atrai
É o mesmo que trai
O amor que dá vida
É o mesmo que provoca a morte
O amor que renuncia a tudo
É o mesmo que exige o efêmero infinito
O amor que esconde, omite
É o mesmo que delata, acusa
O amor pudico
É o mesmo despudorado
O amor que consome a vida
É o mesmo que alimenta a alma
O amor que consola
É o mesmo inconformado
O amor que estremece todo o corpo
É o mesmo que paralisa
O amor que não deixa dúvida
É o mesmo que não dá certeza
O amor que exige tudo
É o mesmo contente com pouco
O amor infinito
É o mesmo que acaba repentinamente
O amor que não aguarda nem um segundo
É o mesmo que espera por toda a eternidade
O amor que perdoa tudo
É o mesmo que não tolera nada
O amor que só diz sim
É o mesmo que nega sem motivo nenhum
O amor que se incendeia calorosamente
É o mesmo que apaga à toa
O amor que se consome na cama
É o mesmo indiferente fora dela
O amor que floresce
É o mesmo que produz agressivos espinhos
O amor que gera
É o mesmo que mata
O amor que sente cada segundo passar
É o mesmo do tempo infinito
O amor que atormenta
É o mesmo que acalenta
O amor que humilha
É o mesmo que esnoba
O amor que guerreia
É o mesmo que celebra a paz
O amor que aprisiona
É o mesmo que liberta
O amor que deseja
É o mesmo que repudia
O amor que inspira esses versos
É o mesmo que rasga o papel
O amor que te trouxe
É o mesmo que te leva.

(Autor: Flavio) 

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