UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Jardim Espiritual




Quero um amigo espiritual que cuide
de meus jardins:

do coração para que ele não sofra
com sentimentos menores;

dos olhos,
para que ele só perceba a beleza que
há nos outros,
nunca o lado feio;

dos ouvidos,
para que os gritos estridentes sejam
compreendidos e relevados;

da minha garganta,
para que ela não adoeça dizendo o que
não deve aos outros;

da minha voz,
para que eu não me encha de sabedoria
relativa e julgue, julgue, julgue;

de minha língua,
para que eu não seja maledicente;

de minhas mãos,
para que elas construam infinitamente o bem;

de minhas pernas;
para que elas não se cansem na caminhada
da vida,
perseguindo o futuro idealizado! 
Quero um jardineiro paciente com
os meus defeitos,
tão cruzados, insistentes, inusitados;

Quero um jardineiro que me oriente
como combater as ervas daninhas;
que  sopre em meus ouvidos todo dia:
Perdôe! Perdôe! Perdôe!

Sem esse amigo espiritual,
tão leve, sóbrio, amoral...
sinto muito,
não consigo conviver com a eterna luta
entre o bem e o mal!

(Autora: Margaret Pelicano)

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