UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Luar Azul

Em matizado degradê qual manto fosse
Os oceanos, no azul em ti achado,
Em cantilena, rumorejam ária doce,
E na platéia o infinito estrelado.
Meu Solitário coração te faz lareira
Da nostalgia alimentada ao anoitecer
E de alegria se tinge a pasmaceira
Já não assusta o cinzento escurecer.
Em tons azuis se enfeita a aba da noite
No silencio do infinito rendilhado...
Se névoas te embaçam, triste açoite
Pro olhar com que te busco apaixonado!
De imensurável beleza o anil temperas,
No entardecer ao revoar das pombas
E no canto do galo, ao declinar esperas
O astro rei que te vem beber as sombras
Rainha Inacessível ao Senhor do dia,
Em banhos íntimos de recamadas cores
Se me entregas, despida, o corpo em orgia,
Ao murmúrio plácido de trovas de amores!
Arrebata-me, pois, Soberana dos espaços.
Ancora-me em teu seio o coração triste
E à minh’alma acalenta em seus braços
Libertando-a do laço que desfazer resiste
(Autor: Manito O. Nato)

Nenhum comentário: