UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Uma gota de orvalho!!

Descida do firmamento
Em movimento recamado,
Suave profusão de leveza,
Vem ao belo dar ornamento
Pelo céu estimulado.

Vencido o mal e o pecado,
Transcende em delicado ato
De iluminância e realeza...
Pequena, gigante isolado,
Purifica um momento lato

É pérola inimitável
No seu estar passageiro,
Tal e qual o pensamento,
Que no tempo insaciável
Do presente é prisioneiro.

Viça pelas manhãs a rosa
E depõe-se no dia ao meio,
Mas, se o sol a quer enxuta,
Ao balanço da flor viçosa
Esparge sem ter receio.

Em folha seca pousada,
Brilhante qual passageira,
Úmida gota de orvalho,
Anuncia nova ramada,
Primavera alvissareira.

Ah, Déa de efêmera glória...
Celebrando seu estar solene,
O orvalho por ti se enluta
E a rosa tem na memória
O beijo que a faz perene.
(Autor: Manito O. Nato)

Nenhum comentário: