
Indistinto... ambarino... gris...
E no monótono matiz
Da névoa enovelada bole
A folhagem como o bailar.
As velhas árias funerais.
Minh'alma sofre e sonha e goza
À cantilena dos beirais.
Meu coração está sedento
De tão ardido pelo pranto.
Dai um brando acompanhamento
À canção do meu desencanto.

Dos sós... - ouvir a água escorrer,
Lavando o tédio dos telhados
Que se sentem envelhecer...
Terno como a canção das amas!
Canta as baladas que mais amas,
Para embalar a minha dor!

Cai, benfazeja, a bom cair!
Contenta as árvores! Contenta
As sementes que vão abrir!
Ó água amiga das raízes,
Que na mudez das terras fundas
Às vezes são tão infelizes!
Ao sopro mau dos vendavais
As grandes árvores antigas,
Quer quando mansamente cais.
Voz de cortante, álgida mágoa,
Aprendi na cidade a ouvir
Como um eco que vem na aragem
A estrugir, rugir e mugir,
O lamento das quedas-d'água!
(Autor: Manoel Bandeira)

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