UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 16 de maio de 2009

Amor que morre


O nosso amor morreu... Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta,
Do tempo que passava, que fugia!

Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe já desponta!
Um engano que morreu...e logo aponta.
A luz doutra miragem fugidia...

Eu bem sei, meu amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos para partir.

Eu bem sei, meu amor, que era preciso
fazer do amor que parte o claro riso
De outro amor impossível que há-de vir.

(Autora: Florbela Espanca)

Um comentário:

Prof. Ademar Oliveira de Lima disse...

Estive por aqui conhecendo o seu blog!! Abraço Ademar!!!