UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 2 de março de 2011

Imortalidade da Alma


Porque choras, Fileno? Enxuga o pranto
Que rega teu semblante, onde a amizade
De seus dedos gravou o terno toque.
Ah!não queira cortar minha esperança,
E de dor embeber minha alegria.

Tu cuidas que a mão fria
Da morte, congelando os frouxos membros
Nos abismos do nada inescrutáveis
Vai de todo afogar minha existência?
È outro o meu destino, outra a promessa
Do espírito que em mim vive e me anima.

A horrenda sepultura
Conter não pode a luz brilhante e pura,
Que soberana rege o corpo inerte...
Não descobres em ti um sentimento
Sublime e grandioso, que parece
Tua vida estender alem da morte?
Atesta... escuta bem... Olha... examina...
Em ti deve existir: eu não te engano...

Tu me dizes que existe...  Ah! meu Fileno
Como é doce a lembrança
Dessa vida imortal em que,banhado
De inefável prazer,o justo gosa
Do seu Deus a presença majestosa!

Desperta, ó morte:
Que me detém?
Teu cruel braço
Esforça e vem.

Vem, por piedade,
Já transpassar-me
E avizinhar-me
Do Sumo Bem.
(Autor: Sousa Caldas)

Nenhum comentário: