UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 27 de março de 2011

É Tempo de Renascer!...


       A Páscoa se aproxima e com ela traz a sensação que o clarear de um dia transmite, após uma noite sem estrelas.
    "É Páscoa...Não quero escrever sem sentir, mas, sim, sentir enquanto escrevo...
    Hoje, mais do que antes, minha fé na existência de "Algo" ou de "Alguém" cuja energia transcende o ser humano é forte e presente.
       Páscoa é festa, é ritual de passagem que celebra a vida, a vitória da fé e a conquista da liberdade. Mas, antes da alegria, coexistiram a dor e a perda... Antes da fé, foi necessário sentir-se perdido em dúvidas e medos... Antes do reviver e da liberdade, foi necessário morrer e sentir-se aprisionado.
       Nesta Páscoa, em especial, lembro dos apóstolos, aqueles humildes seguidores de Cristo, que se acovardaram perante a prisão e morte do Mestre, apavorados perante a possibilidade de terem o mesmo destino.
       Eles, espalhados e foragidos, depois, se encheriam de coragem e retornariam repletos de força e energia a Jerusalém, como verdadeiros arautos da ressurreição de Jesus, independente do que lhes poderia acontecer.
     Aqueles homens vivenciaram a morte da alma, através da perda, da descrença, do medo e do remorso, mas, ao resgatarem sua fé, voltaram à vida.
    A Páscoa continua a ser um convite a cada um de nós, humanos como os apóstolos, para lutarmos pelos nossos ideais e valores, para sairmos do esconderijo do medo, da descrença e renascer para uma vida de fé.
     A escolha será sempre nossa, nada deve ser imposto. Não há lugar para o "tem de", mas para o querer de cada um.
     É hora de viver a Páscoa, de reconhecer que os ciclos inevitáveis da vida sempre contêm finalizações, que não adianta querer paralisar o tempo e, por isso, deixar a infância morrer para que a adolescência nasça, e, depois, deixá-la igualmente partir e acolher a maturidade da meia-idade.
     É hora de viver a Páscoa e de lidar, talvez, com a morte de algum relacionamento ou de algum sentimento que mudou com o passar do tempo, lembrando que os términos e fechamentos são tão importantes quanto os começos e, assim, devem ser vividos e reconhecidos.
    É tempo de renascer e, para isso, é preciso abraçar a noite que precede o dia, aceitar nossas limitações e as daqueles que nos rodeiam, perdoar a nós mesmos e aos outros, aprender a lidar melhor com as decepções, os dias cinzentos, as faltas e a incompletude da vida.
     É tempo de renascer, mas, para isso, preciso reavaliar o que espero da vida e das pessoas, preciso ter coragem de me dasapegar, de aceitar que certas coisas em minha vida precisam terminar e que o passado não retornará.

(Autora: Elisabeth Salgado)

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