UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 27 de março de 2011

Certeza



O vento, dum arbusto te fez tombar
Uma florinha branca, muito pura,
Que, rolando, em lama escura,
As brancas folhas logo foi manchar...

Depressa dessa lama a fui tirar,
Com pena dela, e a palpitar ternura
Vi que a florinha branca era tão pura
Que nem a lama a pode manchar

Também na vida há flores que o vento em ira
Sacode rudemente, arranca e atira
Para o lodo do mundo em turbilhão

E talvez conservassem o fulgor,
Se mãos sublimes, límpidas , de amor
Fizessem o que eu fiz à flor do chão.

(Autora: Hanid Estela)

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