UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

terça-feira, 29 de março de 2011

Baú de Lembranças

Eta!!! Que o adulto é mesmo muito bobo. 
As coisas simples e boas da vida acabamos perdendo, 
principalmente nós, mulheres... 
É isto mesmo. Você já reparou em uma rodinha de homens conversando? 
Eles riem, contam piadas, criam brincadeiras para se divertir, 
jogam um ao outro na piscina... são mesmo umas crianças.
Que coisa linda que é isto! 
E nós, mulheres, o nosso grupinho quando está reunido! 
O que fazemos? Ficamos ali conversando, centradas, 
preocupadas com a imagem, com a postura, 
com a elegância, mas será que somos assim? Não, não. 
Creio foi esta maldita cultura que nos estereotipou e, 
perdemos o nosso lado lúdico. 
Que tolas somos! 
Às vezes tenho vontade de perder a classe, 
de voltar a ser criança. 
Neste momento lembro-me dos dias de chuva, 
das tardes quentes de verão...
Que vontade de tirar os sapatos e sair pisando 
nas poças d'água que aqueles finais de tarde 
ensolarados formavam após cair um temporal e refrescar a tarde. 
Não quero pensar nos transtornos que hoje estas chuvas trazem, 
quero pensar em ser criança, 
só quero lembrar-me das brincadeiras quando a chuva cessava.
Tudo começava com o céu escurecendo e uns riscos brilhantes no alto. 
Aí vinha o vento, "as folhas formando redemoinho no chão", 
a escuridão invadia a tarde e, 
no céu apenas uma faixa clara, 
na altura do horizonte indicava que ainda era dia... 
Então a água desce, pesada e sonora... 
Por fim, ela vai embora formando no céu um lindo arco-íris.
Aí era a nossa vez... 
Como os pássaros que haviam se escondido 
e saíam começando a cantar, 
nós saíamos de onde estávamos protegidos 
e corríamos descalços para a rua brincar nas poças d'água. 
Eram só risos, brincadeiras.
"A chuva faz brotar as plantas e quando a gente se permite, 
ela é garantia de diversão. 
Caetano Veloso diz em Chuva Suor e Cerveja: 
"... e quando a chuva começa eu acabo perdendo a cabeça". 
Um dia destes vou perder a cabeça, 
da próxima vez em que a chuva começar a cair, 
vou correr para a rua, tirar meus sapatos, 
vou deixar a roupa molhar, vou pisar na água, 
"... vou sentir o gostinho de ser criança outra vez". 
 
(Autora: Selma Barreto do Canto)

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