UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Soneto

Nem heróis como Ulisses e outros mais
Por mais sagazes e por mais divinos
Cheios de graça e louros peregrinos
Desafios provaram aos meus iguais.
Brilho desses olhos tão sensuais
Tanto inflamou meus sonhos femininos
Que para meus ardores repentinos
Não há remédio, se vós não m’o dais.
Ó dura sorte, que me faz igual
A quem pede socorro ao escorpião
Contra o veneno do mesmo animal.
Só peço que não me venha a fenecer
Esse desejo no meu coração
Porque, sem ele, é bem melhor morrer.

(Autora: Louise Lobé - Tradução de Sérgio Duarte)

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