UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 22 de janeiro de 2011

Como o Amor inspira os Poetas


 Aqui tens meu coração,
Se o queres matar, podes;
Olha que estás dentro d,elle!... *
Se o matas, também morres!


Acredita, meu amor,
Acredita - q,rendo tu - : *
Os dias que te não vejo
Não tenho prazer nenhum.


Assim que tevi, pasmei, *
Deixei interesses de parte;
Ou feliz, ou infeliz,
O meu destino é amar-te.


Eu  sou o sol e tu és a sombra,
Qual de nós, será mais firme?
Eu como sol a chegar-me,
Tu como sombra a fugir-me.

(Autor: Jaime Cortesão)

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*Cancioneiro Popular do Baixo-Alentejo, Portugal. Texto escrito  de acordo com a ortografia da época. Portugal, 1901.

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