UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Máscaras


Cada vez que ponho uma máscara para esconder minha realidade,
fingindo ser o que não sou, faço-o para atrair o outro e logo descubro
que só atraio a outros mascarados distanciando-me dos outros devido
a um estorvo: a máscara.
Faço-o para evitar que os outros vejam minhas debilidades e logo descubro
que, ao não verem minha humanidade, os outros não podem me querer pelo
que sou, senão pela máscara...
Faço-o para preservar minhas amizades e logo descubro que, quando perco um amigo, por ter sido autêntico, realmente não era meu amigo, e, sim, da máscara.
Faço-o para evitar ofender alguém e ser diplomático e logo descubro que aquilo que mais ofende às pessoas, das quais quero ser mais íntimo, é a máscara.
Faço-o convencido de que é melhor que posso fazer para ser amado e logo descubro o triste paradoxo; o que mais desejo obter com minhas máscaras é precisamente, o que não consigo com elas.

(Autor: Gilbert Brenson Lazan)

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