UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Quando o Amor acenar, siga-o



Quando o amor acenar, siga-o
ainda que por caminhos
ásperos e íngremes.
E quando suas asas o envolverem,
renda-se a ele ainda que
a lâmina escondida
sob suas asas possa feri-lo.
E quando ele falar a você,
acredite no que ele diz,
ainda que sua voz possa
destroçar seus sonhos,
assim como o vento norte
devasta o jardim.

Pois, se o amor o coroa,
ele também o crucifica.
Se o ajuda a crescer,
também o diminui.
Se o faz subir às alturas e acaricia
seus ramos mais tenros que
tremem ao sol,
também o faz desc às raízes e abala
a sua ligação com a terra.

Como os feixes de trigo,
ele o mantém íntegro.
Debulha-o até deixá-lo nu.
Transforma-o, livrando-o de sua palha.
Tritura-o, até torná-lo branco.
Amassa-o, até deixá-lo macio;
e então submete ao fogo para que
se transforme em pão no banquete
sagrado de Deus.

Todas essas coisas pode o amor fazer
para que você conheça os segredos
do seu coração,
e com esse conhecimento se torne
um fragmento do coração da Vida.


 (Autor: Gibran Kahlil Gibran)

Nenhum comentário: