UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Tempo

O tempo é estático,
Somos nós que passamos.
Os amores não acabam
Somos nós que de amores mudamos.
As flores são eternas
Nós que as vemos murchando.
Toda dor é perene
Somos nós que nos acostumamos.
Toda hora é para sempre
Pena, que sempre abreviamos.
Toda chegada é partida, e é definitiva.
Somos nós que nos ausentamos.
Todas as lágrimas são repetidas
Somos nós que de novo derramamos.
Todas as respostas estão prontas
É nas perguntas que erramos
Todos os mortos estão vivos, e serenos
Fomos nós...que morremos.

(Autor: Tonho França)

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