UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

LIVRO: Temporada de Caça: aberta


Category: Books
Genre: Literature & Fiction
Author: Sarah Mlynowski

A despeito dos rótulos e dos sentidos pejorativos atrelados à literatura mulherzinha, eu leio Chick-lit. Mas, um adendo, não sou fã convicta. Gosto daqueles que, honrando o gênero que os classificam, investem numa leitura leve com pitadas generosas de humor. Claro está que a pretensão de um Chick-lit não reside em escrever uma literatura substancial. Está mais para consumo e descarte mesmo. No entanto, em qualquer enredo há que se ter a qualidade fundamental de entreter o leitor.

Eu penso que o gênero importa pouco quando o autor é hábil para despertar em mim emoções que extrapolam as linhas escritas na história. Contudo, devo confessar que são poucas as autoras do dito Chick-lit que me mantêm presa aos acontecimentos da trama. E de tanto reutilizar a fórmula clichê da mulher moderna, fashionista, duranga e em busca do homem perfeito, é que eu penso que a idéia já anda em farrapos de tão gasta. São as tais das regras que se colam como durepox no estilo a ponto de inibir a originalidade. Eu prefiro ler as excessões, que saem fora do padrão comum, pois, já me cansei.

O que mais irrita em certas autoras do Chick-lit é a insistência em apresentar protagonistas tão absorvidas em si mesmas que beiram a retardação; são sempre recalcitrantes e vivem em autonegação. Que tédio!

Mesmo sabendo que a leitura é critério de gosto pessoal, eu me pergunto, esse gênero tem fôlego ainda? Porque quando comentam a evolução do chick-lit citam-se as autoras pioneiras (Marian Keyes, Helen Fielding) para sustentar a validade do argumento?

Tenho outras tantas questões a serem propostas, mas, para não tornar o post um monólogo, não as formularei aqui.

Além do que esse post foi mais um desabafo e uma deixa para não recomendar Temporada de caça: aberta de Sarah Mlynowski. Jackie, a protagonista, é largada pelo namorado. Na verdade, ele a troca por outra mulher mais bonita e com as pernas saradas. O mundo de Jackie se reduz a chorar as pitangas entre uma possibilidade de um caso e outro com os caras que ela encontra, invariavelmente, no point mais citado da história: O Orgasmo, uma boate que está mais para deflagrar xavecos mornos do que para propiciar o clímax que o nome sugere. O enredo central da trama é esse: Jackie precisa urgentemente de um caso para o bem da sua auto-afirmação. E o final é em aberto, isto é, Jackie não sabe se está à solta ou comprometida. Dependerá dela entender o que significam as passas vermelhas dentro de um cartão enviado por um possível pretendente.

Bem, espero que, antes do cérebro da moçoila virar mousse, ela consiga decifrar o enigma.

E nos agradecimentos, Sarah Mlynowski (a autora) solta a pérola hifenizada: Gostaria muito, muito, muito de agradecer às pessoas que me ajudaram a não me tornar aquela garota que sempre fica falando que um dia talvez num futuro muito distante escreva um livro.

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