UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Mística e Missão

Místico é aquele que vive em profunda
união com Deus, deixando-se levar,
sempre pela luz e pela força do Espírito Santo
de tal modo que pensa, fala e age segundo
esse mesmo estado espiritual em que vive.
O místico é um contemplativo, que não somente
contempla as coisas divinas, mas que se deixa
invadir pelas coisas contempladas.
Ora, o místico, recebendo muitas iluminações
sobre os mistérios divinos, se enche, sempre mais,
de entusiasmo pelas coisas de Deus e seu coração,
a um determinado momento, explode pelo amor
que alimenta o fogo dentro de si.
É, por isso, que todo místico é essencialmente,
um missionário.
Pois, é impossível para um místico,
depois de contemplar e viver a largura,
a profundidade, o comprimento e a altura dos
mistérios, conter-se dentro de si e não ser
impelido a levar para os outros o que
contemplou e viveu com tanta intensidade.
Pode acontecer, porém, que um missionario
não seja um místico, então, nesse caso,
ele está fadado ao fracasso.
Todo missionário tem de ser um místico,
para que não se transforme num mero pregador
sem vida, num simples anunciador sem alma,
com interesses secundários ou agindo
apenas por obrigação.
O pregador de Cristo tem de viver antes
o que ele prega, do contrário suas palavras
serão sem eco, sem ressonância,
sem vida, sem convite à conversão.
Jesus, o místico por exelência , além de viver
contínua união com a divindade,
gostava de passar suas noites em oração,
após dias exaustivos pela sua ação missionária.
O mesmo aconteceu e acontece com
todos os santos.
Sem profunda vida espiritual Paulo não teria
sido o grande Apóstolo dos gentios;
sem uma intensa vida de oração,
São Carlos Borromeu não teria feito tantas
obras apostólicas como ele fez em sua curta vida.

(Autor: Mons. Pedro Teixeira Cavalcante - Doutor em Teologia)
(Publicado no Jornal Gazeta de Alagoas- 09-11-08)

Nenhum comentário: