UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

terça-feira, 2 de julho de 2013

O Poeta


Já te despedes de mim, Hora.
 Teu golpe de asa é o meu açoite. 
Só: que fazer da boca, agora?
 Que fazer do dia, da noite?

 Sem paz, sem amor, sem teto, 
caminho pela vida afora. 
Tudo aquilo em que ponho afeto
 fica mais rico e me devora. 

(Autor: Rainer Maria Rilke)

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