UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

terça-feira, 2 de julho de 2013

Sobre a Poesia


Creio ser algo maior
– além de mera e fugaz
"matéria de sonho".
Algo quase tão
– insuportavelmente belo:

Quando em excelência
melhor cultivado;

Quando irrompe altivo
após chuva sobre o arado;

Quando não abriga ou tolera
riso, rima ou vereda menor!

Algo, sim – que nos alimenta
e salva da feroz vilania
do existir absurdo;

Da cotidiana demência.
Da cruel verdade e falácia:

Ambas – não privilégio
de tristes tempos nossos.

Algo que quase Tudo pode
abarcar – e que nada quer
ou pretende explicar:

Mas que, ainda assim,
sempre lemos levados por
curioso prazer – até o fim!

(Autor: Jairo De Britto)

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