UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 28 de julho de 2013

Cantiga do Eco


Deixei o rasto no silêncio
jamais vi de que lado cresço;
mas ando em bocas sem silêncio,
onde esqueci o meu começo;

risco metáforas com a bota
do Vento. Aonde vou, componho
a fisionomia remota
achada no Reino do Sonho;

ir ou ficar! – me quebro em mim
entre as curvas do movimento
e, ao olhar-me, descubro em mim
mãos vazias, dedos de vento.

(Autor: Colombo de Sousa)

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