UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 28 de julho de 2013

Prelúdio Crepuscular

No poente
silente
os choupos esguios
balançam
e dançam
refletidos
nos lagos adormecidos
e frios.


A bruma
esfuma
a paisagem
onde a sombra
ensombra
a ramagem.


A claridade amortece...


E, lenta, a noite desce
sobre o jardim,
enquanto fico a relembrar
a tarde em que sobre mim
eu tive o teu olhar.


A claridade amortece...


E nos espelhos gelados
projetam-se magoados
os altos choupos esguios
por entre as sombras das rosas,
que finas e veludosas
perfumam os lagos frios.


No céu, porém, claro e fino
como o teu olhar cristalino
uma estrela cintila,
e espelha-se na água dormente,
enquanto o poente
vacila...


(Autor: Alfredo Cumplido de Sant'Anna)

Nenhum comentário: