UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Da espera desesperada

 Penso em deixar o coração aberto
para quando tu vieres me buscar.
Nada em meu peito ficará deserto
enquanto o coração puder cantar.

Meu pássaro cantor virá por certo
como o vento cantando no pomar
anunciando no sonho já desperto
o dia certo em que tu irás chegar.

Enquanto tu és apenas esperança
eu vivo de saudade da lembrança
de morrer do desígnio de sonhar:

que teu amor é doce destempero
de meu amor de paz e desespero
do que morri de tanto te esperar.

(Autor: Afonso Estebanez Stael)

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