UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 28 de julho de 2013

Luz Divina

 Que a luz divina as cousas transfigura,
No entardecer desta saudade minha!
Eis que o vulto da treva se avizinha,
Tudo se vai perder em noite escura...

A sombra desce; pálida caminha,
Semeando as estrelas pela altura;
Já nos meus olhos místicos fulgura
O brando luar que ao longe se adivinha.

Hora do meu sofrer, hora saudosa,
Em que se oculto e rezo em cada cousa
E me visita a graça do Senhor...

Hora em que a noite vem, piedosa e triste,
Falar de Deus a tudo quanto existe
E tem pena de mim na sua dor...

(Autor: Anrique Paço D’Arcos)

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