UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 4 de novembro de 2012

Soneto de Papel


Por escrito sou mais do que respiro
Antônimo de mim, há sinonímias
Em eu querer já não querer mais nada,
Senão a minha ausência de mãos postas.

Por escrito! E a escrever que ninguém pode!
Contudo, que descanso em que pudesse!
A única viagem que é só minha
Mora na asa infinita da palavra!

Hã muitas vozes neste vôo e entanto
O meu suspeito coração consegue
Amealhar fortunas de silêncio!

Natureza concreta que rabisco
De almas, à custa de buscar-me um outro
Nos dicionários que anoiteço em mim...

(Autor: Homero Frei)

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